Opinião | Conexão 360
Investir em produção própria não é substituição do sector privado, mas uma estratégia crucial para reduzir a dependência de donativos, enfrentar calamidades e garantir segurança alimentar à população.
Em Moçambique, as situações de estiagem, ciclones, cheias e outras calamidades continuam a afetar a produção agrícola, deixando milhares de famílias expostas à fome e à insegurança alimentar. Diante desse quadro, é legítima e urgente a discussão sobre se o Governo deve ou não investir em campos próprios de produção agrária.
A vulnerabilidade que expõe o país
Quando ocorre escassez de alimentos, o país recorre principalmente a donativos, tanto de organizações não-governamentais como de países parceiros. Esta dependência humanitária tornou-se quase parte do ciclo anual, especialmente no centro e norte do país.
Mas depender constantemente de ajuda alimentar é insustentável, expõe fragilidades da soberania nacional e não resolve o problema estrutural da produção.
Aqui surge a questão: até quando Moçambique vai depender de cestas básicas externas para alimentar o seu próprio povo?
O Estado produtor como estratégia de segurança alimentar
Ter campos de produção geridos pelo Estado pode reduzir de forma significativa essa dependência de doações, pois o Governo:
- Produziria alimentos básicos estratégicos, como milho, arroz, feijão, mandioca e gado.
- Criaria reservas alimentares nacionais para períodos críticos.
- Estabilizaria os preços no mercado interno quando houver oscilações.
- Agiria de forma preventiva, e não apenas reativa.
Tal como acontece em Ucrânia e Rússia, o Governo não substituiria o sector privado, mas complementaria e protegeria o mercado interno — garantindo um colchão de segurança alimentar nacional.
Infraestruturas que já existem
Importa lembrar que o país já tem equipamentos, terras e infraestruturas deixadas por programas como o SUSTENTA.
Muitos desses meios estão subutilizados, abandonados ou adquiridos sem continuidade estratégica.
Reativá-los é mais barato do que começar do zero, e mais eficiente do que esperar por ajuda externa quando o problema já está instalado.
Impacto direto no custo de vida
Ao produzir suas próprias reservas, o Governo poderia:
- Fornecer milho, arroz ou feijão a preços controlados aos comerciantes.
- Impedir abusos especulativos em períodos de escassez.
- Reduzir o custo dos alimentos para as famílias.
Isto tornaria a economia mais estável e previsível, protegendo o cidadão comum.
Conclusão
A criação de campos estatais de produção agrária não é apenas uma alternativa — é uma estratégia de soberania, de segurança alimentar e de independência nacional.
Num país onde a agricultura é a base da sobrevivência de milhões de pessoas, o Governo não pode depender para sempre de donativos cada vez que a natureza castiga o campo.
Produzir é proteger.
Armazenar é prevenir.
Planejar é governar.
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